Pai

Ensinaste-me a olhar o mundo, e a vê-lo.

A orientação do vento, o sentido das nuvens,

a cor das folhas das plantas.

A beleza do chilrear dos pássaros,

a riqueza estrutural da fruta,

o crescimento das árvores.

Também me falaste de computadores e de tecnologia,

mas é na natureza que vive a tua paixão,

o contacto com a terra,

o seu cheiro quando chove.

E sempre me falaste da vida,

das suas coisas boas e também das más.

As más, que hoje te fazem tão mal.

À medida que o tempo te foi enrugando as mãos,
deixaste de acreditar nas coisas,
tornaste-te permeável às alegrias,

e hoje só vês as tristezas.

Tal como me deste a conhecer a vida,
também eu gostava,
de te conseguir mostrar as coisas boas
que ainda podes nela encontrar.

Não te esqueças,
o meu coração será sempre o da menina
que abraçaste pela primeira vez há tantos anos.